Há cinco anos, o procurador da República Deltan Martinazzo Dallagnol, paranaense de 39 anos, ganhou notoriedade – inclusive internacional – por integrar e coordenar a Operação Lava Jato, a maior ofensiva contra a corrupção da história do Brasil.
“A cada 100 casos de corrupção no país, 97 ficam impunes na Justiça Criminal”, revelou em entrevista exclusiva, antes de falar para 1.200 empresários e dirigentes de CDLs presentes à 48ª Convenção Estadual do Comércio Lojista, encerrada sábado (25/5), em Joinville.
“Precisamos passar à sociedade a mensagem de que a corrupção não compensa e tampouco pode ficar impune”, sentenciou.

Confira a entrevista:
Quais os próximos passos da Lava Jato?
Deltan Martinazzo Dallagnol – Nós prosseguimos comprometidos em expandir as investigações, em buscar novos caminhos – e recentemente conseguimos importantes avanços identificando bancos envolvidos com lavagem de dinheiro, além de novos acordos de colaboração, que levam a novas linhas de investigação.
A Lava Jato perdeu a força?
Deltan Martinazzo Dallagnol – Com a passagem do tempo a sociedade passou a encarar como rotina. A revelação de esquemas da Petrobras, que representaram a recuperação de R$ 6 bilhões e um número considerável de indiciados e prisões, gerou a percepção de tudo o que veio depois era menor. Depois do gigante, tudo parece pequeno. Mas, sobretudo, não podemos achar a corrupção normal, não podemos perder a indignação diante da injustiça e da corrupção.
O que é preciso para termos ainda mais eficiência nos processos contra a corrupção?
Deltan Martinazzo Dallagnol – Falta uma resposta do Parlamento. As respostas que tivemos – a condenação em 2ª instância, a proibição do financiamento de empresas às campanhas eleitorais e a restrição do foto privilegiado – vieram do Judiciário. Precisamos de uma mudança do sistema de prescrição, que favorece a anulação de processos de poderosos, após décadas de tramitação. Isso caracteriza nosso sistema político e precisa mudar. Nossas eleições são caríssimas – e há um estudo que referencia a proporção de reais investidos por votos obtidos. As 70 propostas contra a contra a corrupção (um conjunto de leis, Propostas de Emendas Constitucionais e resoluções lançadas em 2018, com ampla participação de entidades e instituições públicas e do terceiro setor) seriam um avanço de muita importância, mas não evoluiu no Congresso. O Mensalão e a Lava Jato foram pontos fora da curva. 97 a cada 100 casos de corrupção ficam impunes na Justiça criminal, com a mensagem de que a corrupção compensa. Precisamos passar mensagem inversa, de que as punições não são exceções.
Qual o papel da sociedade no enfrentamento da corrupção?
Deltan Martinazzo Dallagnol – A corrupção rouba a saúde, a educação, a segurança e a renda da população; drena o País com mais e mais impostos; suga a energia do comércio, da indústria. Se queremos um país bom, temos de enfrentar esse problema. Se você não está se mexendo, se não está sofrendo, você criou casca. Sem o nosso desconforto, não vamos resolver esse problema. Não podemos achar normal o que é anormal. A corrupção inocula um veneno paralisante que é o cinismo, a descrença nas instituições. Muitos acreditam que a saída é o aeroporto ou uma situação ditatorial. Mas não tem atalho. A única saída é com mais democracia e nos envolvendo na questão da coisa pública. Não ter garantia de resultado não me exime da responsabilidade, da obrigação de fazer a minha parte na luta contra a corrupção.
(Fontes: PalavraCom e CDL de Joinville. Fotos: Pedro Waldrich)